Frances de Azevedo
Há, sem sombra de dúvida, que se repensar o papel das Academias de Letras, nos dias hodiernos.
Infelizmente, quando se fala em Academia, o primeiro pensamento que assoma à mente é o do local utilizado para a prática de exercícios físicos.
Voltando aos primórdios da historia, à origem da palavra Academia, temos que advêm do herói grego Academo. A história conta que seu túmulo dava nome a um bosque (jardins). Também que tais jardins foram consagrados à deusa Atenas, onde depois foi construída a Academia de Platão, próxima à cidade de Atenas (Academia Platônica, Academia de Atenas ou Academia de Atenas).
Assim, por volta de 387 a.C., nesses jardins, localizados na periferia de Atenas, foi construída a Academia de Platão, onde, inicialmente, deu-se continuidade aos trabalhos desenvolvidos pelos pitagóricos, com os quais Platão mantinha estreita relação.
É considerada a primeira escola de filosofia.
Aristóteles ingressou nessa Academia com apenas dezessete anos de idade!
Platão, discípulo de Sócrates, pautava-se pelo ensinamento dialético, onde o saber era encontrado mediante um processo endógeno, ou seja, pela busca individual, através dos constantes questionamentos. Sua escola rivalizava, assim, com sua contemporânea de Isócrates – onde o conhecimento consistia meramente na assimilação daquele saber que já fora produzido (algo um tanto semelhante com as escolas atuais).
Destarte, a palavra Academia, passou a ter o significado de local onde o saber não é apenas ensinado, mas produzido. (*). (g.n.).
Conforme in Pequeno Dicionário da língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira:
Academia. S.f. 1. Escola criada por Platão em 387 a.C., e que, embora destinada oficialmente ao culto das musas, teve intensa atividade filosófica. 2. P. ext. Escola de qualquer filosofo. 3. Estabelecimento de ensino superior de ciências e arte; faculdade, escola. 4. Escola onde se ensinam práticas desportivas ou lúdicas, prendas, etc. 5. Sociedade ou agremiação de caráter cientifico, literário ou artístico. 6. O conjunto dos membros de uma academia. 7. Local onde se reúnem os acadêmicos. 8. Brás. Restr. A Academia Brasileira de Letras. (Cf. acadêmia).
No enunciado supra, temos menção, tão somente, à ABL – Academia Brasileira de Letras. Segundo Adolfo Lemes Gilioli (membro da Academia Cristã de Letras) e fundador da Academia Linense de Letras, em sua obra Academias e Discursos de Acadêmicos, Editora Martin Claret, Ed. 2001, ás fls. 14:
A Academia Brasileira de Letras surgiu à imagem e semelhança da francesa e por iniciativa de escritores como Medeiros e Albuquerque, Lúcio Mendonça, Machado de Assis, Joaquim Nabuco. De acordo com o modelo que elegeu, congrega quarenta membros efetivos e perpétuos. Dentre estes, 25 têm de morar no Rio de Janeiro. Há também, permanentemente, vinte membros correspondentes, estrangeiros. Teoricamente, pode candidatar-se a acadêmico todo brasileiro nato que seja autor de obra literária de reconhecida importância, ou de obra impressa de outra natureza, mas com qualidades literárias. Na prática, o critério decisivo é o prestigio social, antes e depois da eleição.
Ora, sabe-se da existência de muitas outras Academias de Letras pelo país afora, nos Estados, Cidades. Haja vista as de nosso Estado (São Paulo): APL – Academia Paulista de Letras; ACL – Academia Cristã de Letras; APH – Academia Paulista de História; AJL – Academia Jurídica de Letras; Academia Paulista de Psicologia; ALAESP – Academia de Letras e Artes do Estado de São Paulo, ALC – Academia de Letras de Campinas, Academia de Letras de São João da Boa Vista, Academia Branquense de Letras...
A maioria segue o padrão da ABL na sua constituição, comportando quarenta membros, nas quarenta cadeiras com seus respectivos patronos (= Membros Titulares). Comporta também membros correspondentes, membros beneméritos e membros honorários. Cada uma com seus respectivos Estatutos.
A finalidade, o fim precípuo das Academias de Letras é o de se dedicarem à literatura, às ciências e às artes. Seus membros – acadêmicos (as) – escolhidos (eleitos) que foram por seus pares, deverão ser pessoas interessadas no culto da língua pátria, no aperfeiçoamento do uso do vernáculo corretamente, no incentivo à leitura, na publicação de obras literárias, nas rodas filosóficas onde o debate sadio, o respeito à norma culta, à Educação como um todo deverão nortear as discussões. Estas, porém, não deverão ficar circunscritas à caserna, somente entre os acadêmicos (as). Deverão, sim, ultrapassarem, atravessarem os muros das Academias e chegar até as Escolas, as Universidades, aos estabelecimentos de ensino e culturais, sem restrição alguma. Caso contrário, a meu ver, perder-se-á, com certeza, seu sentido, seu objetivo (ou objetivos).
Todavia, lamentavelmente, o que temos visto, com raríssimas exceções, é o corporativismo acadêmico. Fala-se, discuti-se, reúnem-se os acadêmicos (as)
PRINCIPIOS FILOSÓFICOS DA DOUTRINA CRISTÃ
Tal título encima a publicação, pela Academia Cristã de Letras com apoio institucional do CIEE e Academia Paulista de História, de meu discurso de posse na Cadeira 39, da ACL. Após os agradecimentos de praxe, neste, falo de minha patrona: Madre Maria Teodora Voiron, nascida em Chambéry, na França, em 6 de Abril de 1835, precursora que foi dos internatos no Estado de São Paulo para educação das jovens, com apenas 23 anos de idade foi enviada ao Brasil como missionária, onde assumiu a fundação do colégio Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu/SP, em 13/11/1859. De meu antecessor José Benedito Silveira Peixoto, advogado, intelectual renomado. Em seguida, faço digressão sobre os princípios filosóficos da doutrina cristã que norteiam nossa Academia:
Sócrates, filósofo da Antiguidade, dizia? “O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar”. Onde, pois, a aplicabilidade deste maravilhoso pensamento, senão numa Academia nomeadamente cristã? Cristã não por princípios religiosos, mas filosóficos da doutrina cristã, como o culto à moral, aos bons costumes, amor ao próximo, caridade e respeito. E onde é possível compartilhar da paciência, do amor fraternal, dos verdadeiros sentimentos do ser humano, do conhecimento e, principalmente, da sabedoria.
Na verdade, uma Academia, na sua acepção originária, há de ser aquele pote no final do arco-íris, onde, com certeza, encontraremos o verdadeiro ouro das reservas intelectuais de um país.
Mais adiante, lembro que na edição do DC de 4/09/2006, foi publicada matéria onde destaquei o seguinte trecho: “Um país não pode sobreviver por muito tempo sem alguma vida intelectual na qual ele se enxergue e se reconheça como unidade histórica, cultural e espiritual. Isso falta totalmente no Brasil de hoje”.
Tal me chamou a atenção, pois nem tudo está perdido, eis que há Academias - com “A” maiúscula - em nosso país. Em São Paulo destaco, dentre outras: a Academia Paulista de Letras, a Academia Paulista de História, Academia Paulista de Medicina, Academia Paulista de Psicologia...
Na oportunidade, conclamei as Academias a se unirem em prol da restauração intelectual de nosso país, onde o investimento concreto na educação, hoje, já e agora, com entusiasmo de quem realmente quer fazer e faz, conduzirá, com certeza, a um futuro mais ameno.
Hoje, passados quatros anos de minha posse, cujo momento resta indelével em minha mente, e tendo feito parte, logo no início, da Diretoria como Secretária, noto que o convívio com os confrades é um constante aprendizado e estímulo para novos trabalhos, haja vista a publicação de Poemas Paulistas e O Quinto Uni..verso (este no prelo). Ainda, poemas, artigos e contos calcados nos diálogos construtivos e trabalhos dos confrades, onde, num repente, uma luz se acende na alma do poeta/prosador (inspiração) e ele, então, é obrigado a escrever!
Assim tem sido a convivência plena de vontade de construir, haja vista a aprovação, pela atual presidente Yvonne Capuano, de minha proposta de promover Concurso de Poesia nas Escolas/Universidades, aproximando, assim, nossa Academia dessas entidades educacionais.