Antônio Lafayette
Há pouco tempo, tive a infeliz oportunidade de constatar num desses jornais que deslustram nossa literatura, a tentativa de apequenar poetas maiores de nossa língua, como se fossem um grupo de alucinados a sonhar devaneios enlouquecidos, pairando entre o ridículo e a psicose.
Esquece o cronista maldizente, que os poetas geralmente constituem a formação edênica das artes do espírito, e se ajustam em dimensões infinitas, até onde nos levem as asas da nossa imaginação insípida e modesta.
Cultores da Língua Pátria, ele se afirma desde os primórdios da língua da língua portuguesa, e é referencia tantos nos estudos primários ou colegiais, na perfeição de quem se propõe estudar o português de maneira válida e proveitosa.
Pois a “musica da poesia está em todos nós, em menores ou maiores incidências”.
O que se não pode é reduzir o poeta a inexpressiva condição de um tolo, flutuando na medianiz das linhas da literatura, para aparecer culturalmente.
Nos jardins seculares de Academo, em Atenas, já buscam compreensão, as mentes intelectualizadas de outrora!
Mas o maior poeta grego, Homero, criador da Ilíada e Odisseia, foi definitivo em sua genialidade, a tal ponto que a maioria absoluta dos autores aponta como a história da língua, antes e depois de Homero.
E ainda nas calendas de um século vigoroso e prodigo, surge para glória de sempre, Petrarca com seus “Sonetos”, que encantam o mundo pela sua feição estética, onde a metáfora tem um brilho eletrizante e majestático.
E o cronista de quem falamos, no inicio dessas considerações, infeliz e deslustrado, chega a fazer uso de impropérios, com todas as letras de injuria que a palavra exige, quando se refere a Guilherme de Almeida, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, e com isto envolve, praticamente, todos os poetas nas sombras funestas de sua iniquidade.
Refere-se e retroage no tempo, contestando o valor do “Poeta de Ouvir Estrelas”, como o principal poeta brasileiro.
Pelo seu linguajar, de baixíssimo calão (por isso de nossa revolta), esquece o despudorado, “escrevinhador de bazófias”, que o poeta maior não surgiu por acaso, e se fez digno do titulo merecido, como todo helenismo e hegemonia, dos demais poetas de antanho, e apadrinhado pelas principais Academias, que existiam até então.
Ao bem da verdade, os nossos literatos e poeta têm tanta grandeza na arte de escrever e poetar, que se não houvéssemos escolhido este Imortal para nos representar, outros de semelhante talento poderia ocupar essa valiosíssima Cadeira.
E se desejássemos virtudes da mais perfeita técnica, estilo e sensibilidade, apareceriam dezenas de poetas pelo Brasil (graças a Deus), que merecem figurar desses propósitos.
É o caso, por exemplo, de Gustavo Teixeira, que ensejou esse tesouro de Soneto, trabalhado com a mais acendrada perfeição.
E só não logrou a sua imortalidade nesse soneto superno, pelo requinte da forma e, quiçá, pelo tema de raridade incomum.
Vamos a ele:
CLÉOPATRA
Sob o pálio de um céu broslado de cambiantes,
a galera real de tírias velas tesas
Avança rio adentro, arfando de riquezas,
cheia de um resplendor de pedras coruscantes.
Sob um dossel de bisso, entre espirais ebriantes
de incenso, a escultural princesa das princesas
cisma...Remos de prata, à flor das correntezas
deixam móbeis jardins de bolhas trepidantes.
Soluçam harpas de oiro às mãos de ancilas belas.
Branda aragem enfuna a púrpura das velas
e à tona da água alveja um espumoso friso.
E a Náiade do Egito, ao ver a frota ingente
de Marco Antonio, ri, levando unicamente,
contra as lanças de Roma a graça de um sorriso.