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Movimento Poético Nacional

(Jan/2023)

Não sei bem quando começou esse meu jeito de ser um pouco africana. Desde jovem, meu olhar já se voltava para esse belo continente, berço da nossa civilização. Sim, berço da nossa civilização, porquanto consta que, nós, seres humanos, - infelizmente, muitas vezes desumanos - de lá somos originários.

Uma das teorias é a de que a vida humana surgiu na África Oriental, no final do período que compreende cinco a dois milhões de anos (Período Plioceno).frances de azevedo

Em 1974, na Etiópia, foi descoberto um esqueleto de um hominídeo que recebeu o nome de Lucy, sendo considerado o ancestral humano mais antigo (3,2 milhões de anos...Wikipédia).

Desse continente foram para outros...

Outra teoria a respeito, reza que o ser humano é originário de um ser microscópico provindo da água...

Debates científicos e filosóficos à parte, eis que cada ciência tem seus métodos próprios, faço esta introdução à guisa de chegar até ao ser humano Mandela: Nelson Rolehlahla Mandela: nascido em Mvezo, às margens do Rio Mbashe, Distrito de Livingstone, África do Sul, em 18 de julho de 1918 - (ano que também nasceu meu pai) - e falecido em 05 de dezembro de 2013. Advogado, líder rebelde e Presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Neste país, é mais conhecido por Madiba (nome do seu clã) ou Tata (pai) ... Pai da moderna nação sul-africana. Em 1993 recebeu o Prêmio Nobel da Paz!

Mandela é oriundo de família de nobreza tribal (Tribo Themba), da etnia Xhosa: grupo étnico sul-africano, do Cabo Oriental, que fala a língua Xossa ou Xhosa, um dos idiomas oficiais de seu país.

Quando estive na África do Sul, em 2011, fui visitar Soweto: distrito situado a cerca de 17 Km de Joanesburgo, criado em 1963, agrupando bairros para negros, onde, por um período, residiu Mandela. Soweto é conhecido por ser importante símbolo do Apartheid (regime de segregação racial que perdurou de 1948 até 1940). Lá, visitei sua casa onde conviveu com sua primeira esposa Evelyn e seu primeiro filho (falecido aos 54 anos). Também com a segunda esposa (Winnie). Hoje, é o Museu Mandela. Sobre sua cama, a pele de um animal (creio ser Kudu: antílope africano): símbolo de sua tribo. Fiz questão de adquirir uma espécie de colcha com estampas africanas que vez ou outra eu coloco sobre minha cama numa alusão àquela...

Posto se diga que Soweto é favela, na verdade há ruas calçadas, partes mais bonitas com casas de trezentos metros, bem organizadas. Não há sujeira, lixões...

Prefiro, aqui, não me estender sobre o Apartheid, onde dolorosos foram os episódios, cujos reflexos, infelizmente, ainda se fazem sentir hoje em dia. Conversando com um residente de Joanesburgo, pude entender um pouco sobre esse grande mal que se abateu sobre tão belo e amável povo. Povo sorridente, manso, pacífico que almeja tão somente viver em paz na SUA TERRA!

Visitei a prisão, hoje museu, em Robben Island (Ilha de Mandela), num barco turístico que comporta até duas centenas de pessoas. A ilha dista 12 km da Costa da Cidade do Cabo: É considerada patrimônio da humanidade! Partimos de Waterfont (porto): belíssimo local, com prédios de dois andares, arquitetura vitoriana, estilo gótico vitoriano. A viagem durou cerca de meia hora. O dia estava lindo: Céu de brigadeiro!

Nessa ilha, Mandela ficou por dezoito anos dos vinte e sete em que ficou preso... – Durante os anos 70, Mandela se recusou à revisão de sua pena –

Nelson Mandela humanizou a prisão: antes de sua chegada, os prisioneiros dormiam sobre o piso frio; após, ele conseguiu para os prisioneiros uma espécie de cobertor grosso, dobrado...

Não poderia deixar de transcrever o poema de William Ernest Henley: mantra poético de apoio para Nelson Mandela quando esteve aprisionado:

INVICTUS

Dentro da noite que rodeia,
Negra como um poço de lado a lado,
Agradeço aos deuses que existem
Por minha alma indomável!

Sob as garras cruéis das circunstâncias
Eu não tremo e nem me desespero;
Sob os duros golpes do acaso,
Minha cabeça sangra, mas continua erguida.

Mais além deste lugar de lágrima e ira,
Jazem os horrores da sombra,
Mas a ameaça dos anos
Me encontra e me encontrará sem medo.

Não importa quão estreito o portão,
Quão repleta de castigo a sentença;
Eu sou o senhor do meu destino,
Eu sou o capitão da minha alma!

Obs.: Encontrei diferentes traduções, porém, em 2016, optei por esta, que consta do meu livro África Em Prosa e Versos ...Quanto ao nome do (a) autor (a), não logrei encontrar...

Mandela casou-se três vezes: A primeira, com Evelyn Ntoko Mase, por treze anos, vindo a se divorciar em 1967. A segunda, com Winnie Madi Kizela, de quem se divorciou após 38 anos (vindo à baila as divergências políticas entre o casal). Aos 80 anos, casou-se com Graça Machel (viúva de Samora Machel: antigo presidente moçambicano) afastando-se da vida pública para dedicar-se à família.

Com a primeira esposa, teve quatro filhos. Três faleceram; o mais velho de AIDS. Quando passei por Joanesburgo (Johanesburgo), onde morava, (2011) soube que só tinha uma filha viva e que sua bisneta tinha falecido, em 2010, de acidente de carro.

Na capital, Johannesburg, fui ao Apartheid Museum: imponente construção em concreto aparente, com destaque para os sete pilares da Constituição do país, onde gravado: Democracia, Igualdade, Reconciliação, Diversidade, Responsabilidade, Respeito e Liberdade. Possui duas entradas: entrada para negros e brancos, numa alusão ao tempo em que brancos e negros eram separados. Há uma mostra de carteiras de identidade de negros e brancos pois, naquele triste período, havia diferença que constava dos documentos dos não brancos, qual seja: a linha que indicava a cidadania não era preenchida, pois os negros não faziam parte da nação; não eram considerados cidadãos! Há fotos de Mandela e de outros participantes desse episódio. Fiquei muito emocionada. Chorei... Há documentário sobre os imigrantes chineses, holandeses, ingleses que colonizaram a África do Sul...

Fiz questão de entrar pelo portão dos negros

Para relembrar a crueldade perpetrada,

Posto hoje em dia não exista mais tal distinção

De tão inefável discriminação...

Há inúmeros filmes sobre Mandela, um dos quais, Invictus, nos oferece expressiva lição de estratégia de como lidar com a segregação racial valendo-se de apostar no esporte consagrado no país (África do Sul): o Rúgbi (Rugby Football), onde somente pessoas brancas podiam participar e assistir aos jogos. Mandela, na Copa Mundial de Rúgbi, de 1995, apoiou o desacreditado time de sua terra, procurando unir todos, brancos e negros, para vencer a competição...Vale a pena assistir este e outros, para uma visão melhor desse incrível e renomado ser humano que lutou contra a opressão racial!

Também, de bom alvitre que se navegue por algumas obras literárias, como: Cartas da Prisão de Nelson Mandela; A Cor da Liberdade: Os Anos na Presidência ...

 MANDELA: figura entre os Pacificadores da humanidade na mostra levada a efeito em Belo Horizonte em 2018.

Muito e muito mais há para relatar sobre Madiba/Mandela: um homem que lutou pelo seu povo, pelos sete pilares da Constituição sul-africana:Democracia, Igualdade, Reconciliação, Diversidade, Responsabilidade, Respeito e Liberdade...

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. (Nelson Mandela).

Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL